Após a condenação a dez anos de prisão em Cabo Verde por tráfico de drogas, o capitão francês Olivier Thomas falou pela primeira vez a imprensa sobre o verdadeiro tormento que ele e os velejadores brasileiros veem passando desde agosto de 2017. A publicação foi compartilhada, sobretudo nos jornais franceses, destacando a difícil realidade que ele e a sua tripulação seguem enfrentando diariamente. Ao todo são mais de 100 páginas manuscritas onde Oliver compartilha tudo que vem acontecendo desde então. Confira alguns trechos:
"Quatro ou cinco homens da Marinha embarcaram, com serras e durante seis horas buscaram drogas sob os beliches, tanques, e revestimentos de metal soldados. O veredicto estava em nossa frente: cocaína pura. A sensação era cair de dez andares! Em poucos segundos, passei de capitão a traficante de drogas (...) Os soldados chegam, encapuzados, armados com Kalashnikovs: vamos para a prisão de segurança máxima escoltados por um comboio... É ruim, muito ruim. sim, mas teremos que provar que somos inocentes (...)".
Olivier Thomas conta que achava que conhecia bem "Fox", apelido do proprietário da embarcação apreendida. "Fox "ganhou a confiança de todos o mundo muito habilmente, ninguém suspeitava de nada", conta. "Ele disse que queria passar o resto de sua vida viajando e curtindo a vida" , lembra Aniete Dantas, mãe do baiano Rodrigo Dantas, um dos velejadores presos em Cabo Verde. "Fox" segue foragido, procurado pela polícia internacional.
"Estamos em uma cela de 2x3 metros com quase nenhuma ventilação, onde eu e os demais velejadores seguem chorando o tempo todo. É um vazio cósmico, sideral, um buraco negro onde a queda livre nunca acaba. A comida chega, mas é repugnante. Tenho uma dor de estômago permanentemente. Não há água nos chuveiros, então nos lavamos com uma garrafa de 5 litros de água. Quase nunca escrevo, ninguém tem lápis, todos preferem fumar."
O capitão está esperançoso de que a Interpol consiga prender o dono do barco, assim como o caso tenha uma nova revisão em breve, já que tudo caminha para uma grande reviravolta. Enquanto isso, Olivier Thomas escreve seu sonho. "Imagino estar mergulhando em um recife de coral, na Nova Caledônia. Fecho os olhos e saio da cela. Mas, o sonho tem fim. Abro os olhos e estou de novo nesta cela. Preso."
Fotos: Thomas Jost - Radio France
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