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  • Foto do escritorMar Bahia

"O sonho é atravessar o Atlântico e chegar em casa, no Distrito Naval"

Depois de 18 meses navegando pelos mares do mundo, a tripulação do veleiro Fraternidade finalmente começa a subir o Oceano Atlântico. O comandante Aleixo Belov enviou ao Mar Bahia mais um episódio de sua emocionante viagem, desta vez na África do Sul. Confira:


"Assim que cheguei na África do Sul, perguntei logo na Durban Marina por meu amigo Gilbert Goor, que conheci em 2001. Depois ele deu uma volta ao mundo e esteve comigo em Salvador. Por sorte ele estava lá, morando a bordo do Zazu. Meia hora depois já estávamos juntos planejando uma viagem pela Savana Africana com passagem pelo Kruger Park. Ele tinha uma Kombi e dois dias depois já estávamos na estrada.


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Já conhecia esta região, mas fiquei impressionado com a beleza da paisagem, montanhas e vales, tudo muito verde e toda a terra perfeitamente aproveitada para a agricultura, lembrava os campos da Europa. Muita cana, milho, laranja, mamão, nozes e frutas em geral, mas tudo em grande escala. Provavelmente, para exportação. Quando voltamos pela região montanhosa, encontrei muitas minas para extração de todo tipo de minério, inclusive os mais nobres como ouro, urânio e diamante. As minas de carvão são intermináveis e às vezes a céu aberto, é só cavar e levar. Não restava dúvida: a África do Sul é uma potência. Provavelmente, o país mais rico e desenvolvido da África.

O Kruger Park fica a 900 km de Durban, sendo que a primeira metade é de terras muito boas para a agricultura, tudo verde. Mas daí em diante começa a Savana, onde as árvores ficam um pouco afastadas umas das outras e cresce um capim que alimenta os elefantes e todo tipo de animais herbívoros. Os elefantes, muito fortes, andam quebrando as árvores por esporte e as girafas aparam suas folhas mais novas sem piedade. Fizemos reuniões com crocodilos, hipopótamos, búfalos, impalas, kudu, gnu, zebras, girafas, rinocerontes, cães selvagens, chitas, macacos babuínos, com uma leoa e muitos outros. Os filhotes de macaco brincavam como humanos. Passeavam na beira do caminho tartarugas, galinhas de angola e as codornas que nem levantavam voo quando a gente passava. Passamos no Kruger quatro dias, dormindo cada dia em um campo diferente, mas nem assim vimos tudo, o Parque Nacional é muito grande.

De volta a Durban, comprei mais algumas cartas náuticas e fiz reuniões com vários comandantes experientes sobre a melhor maneira de contornar o cone sul da África e chegar a Cape Town. Todos recomendam esperar por uma janela de bom tempo para começar a viagem, podendo parar em East London, Port Elizabeth ou Mossel Bay, caso uma nova depressão venha ao nosso encontro. Aqui, quando a corrente quente que vem descendo de Moçambique encontra o vento contra, em cima de um banco mais raso em frente ao Cabo das Agulhas ou do Cabo da Boa Esperança, o mar se desespera e cria ondas anormais que podem chegar a 20m. Por isso, se uma depressão vem chegando, todos recomendam entrar em um porto a caminho e esperar a depressão passar para só então continuar a viagem.


Saímos de Durban depois que Igor e Ialda chegaram e só precisamos parar em Mossel Bay. Cidade linda onde Diogo Cão, Bartolomeu Dias e Vasco da Gama pararam em 1487 para se abastecer de água. No museu, vimos a réplica de sua caravela. Eram bons os navegadores portugueses. Naquele tempo não existiam cartas náuticas nem a previsão de tempo, e o Cabo da Boa Esperança virava Cabo das Tormentas. Infelizmente, não se faz mais homens como antes. Papini e Walter mergulharam em uma gaiola para ver os tubarões brancos de perto. Chegaram a alisar um deles.

A depressão passou e seguimos em frente. A janela de bom tempo foi ótima, parece que a natureza tinha adormecido para deixar a gente passar. Chegamos em Cape Town com mar liso e vimos o sol nascer e iluminar a Table Mountain. Não podia pedir mais do que isso. Se melhorasse estragava. Mas o último sonho não mudou. O sonho é atravessar o Atlântico e chegar em casa. Na chegada, ali no mesmo lugar de onde sai, no Segundo Distrito Naval, quem sabe abraçar todos vocês".


Aleixo Belov


Fotos: Leonardo Papini


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