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Flávio Perez: "As pessoas ainda não souberam enxergar o que um esporte como a Vela pode oferecer"

Durante a passagem da Regata Transat Jacques Vabre Normandie Le Havre 2019 (TJV) em Salvador, o Mar Bahia bateu um papo, mais Lado B, com o assessor de imprensa, responsável pela divulgação do evento no Brasil, Flávio Perez, que não apenas acompanha de perto a TJV, como trabalha ainda para grandes eventos e competições como as Olimpíadas e a Volvo Ocean Race.

Foto: Site Mar Bahia

MAR BAHIA - Quanto custa em média participar de uma regata como a Transat Jacques Vabre?


Flávio Perez - Isso depende dos barcos. A Class40 é bem mais barata que as outras, como a Multi50 e Imoca. A campanha do veleiro Hugo Boss, por exemplo, que teve problemas com a quilha e não conseguiu concluir a Transat Jacques Vabre é uma das mais caras. Em verdade essas campanhas não se restringem apenas à TJV, mas duas temporadas da TJV e mais a Regata Vendée Globe (Volta ao Mundo em Solitário sem assistência), que para os velejadores é como se fosse a Copa do Mundo. Então é uma campanha de quatro anos. É quase um planejamento olímpico que passa da casa dos 20 milhões de euros, no caso do Hugo Boss, por exemplo. Em contrapartida, tem campanhas bem mais em conta, por volta de 500 mil euros, como na Class40.


MB - E em termos de premiação, quais seriam os valores?


FP - O grande prazer de qualquer regata é ganhá-la! Imagina, então, ganhar uma prova como essa, que reúne grandes competidores internacionais! Existe a premiação em dinheiro, claro, que gira em torno de 200 mil euros no total, o que é uma boa grana, mas a grande sacada é a exposição que participar de uma regata como essa traz; até porque todos os barcos têm patrocinadores. A Vela na França é extremamente profissional, com uma grande equipe envolvida por trás das tripulações, o que gera grandes divisas para o país e os patrocinadores.


MB - Após dias velejando entre a França e Salvador, os barcos precisam voltar. De que forma acontece essa logística?


FP - Para essa logística a gente tem uma empresa contratada, daqui mesmo de Salvador, que coloca os barcos desmontados em um navio cargueiro e os leva de volta. Na última edição, o campeão da classe Ultime (trimarans de mais de 100 pés, que podem chegar a cerca de 100km/h) voltou velejando. Tudo é feito com muito cuidado. Cada barco e classe está avaliado em diferentes valores. A classe Imoca tem veleiros avaliados em 5 milhões de euros, os Multi50 em 2 milhões de euros e a Class 40, por volta de 100 mil euros. Tudo vai depender do ano de fabricação, qual o projetista e a tecnologia empregada a bordo.

"Uma curiosidade é que as equipes que quiserem voltar velejando também têm essa possibilidade. Isso acontece quando os velejadores querem treinar e experimentar mais o barco".

MB - Qual é a rotina dos velejadores após tantos dias focados em um desafio como esse, considerado a F-1 da Vela?


FP - Basicamente descansar, beber caipirinha e curtir a cidade. A família de alguns deles também desembarcam na cidade, o que possibilita aproveitar mais tudo isso.

Foto: Site Mar Bahia

MB - Dentre o meio náutico se percebe ainda uma distância entre a regata e a cidade. Como você vê isso?


FP - Tem um Vila da Regata aqui, o show está aqui para que todos possam ver. As possibilidades são muitas em termos de integração, mas de fato não há uma relação efetiva com a cidade. A prefeitura de Salvador, por questões politicas, por exemplo, deixou de dar um suporte ao evento. Lamentavelmente, todos perdem.


MB - O que falta para que Salvador receba mais eventos náuticos internacionais?


FP - Hoje, Salvador é a capital mundial da Vela, mas falta muita coisa para a cidade receber melhor estes eventos. Os melhores barcos do mundo estão aqui. E quem vem ver e prestigiar? Pouca gente sabe, a própria mídia local não vem cobrir e mostrar um pouco desse universo às pessoas. Ainda assim, Salvador está um passo à frente por ser um destino procurado pelos velejadores. Aqui já chegaram grandes nomes da Vela e eles usam Salvador como referência de destino.


"De um modo geral, as pessoas ainda não souberam enxergar o que um esporte como a Vela pode oferecer. Falta interesse em fazer uma real conexão, articulação de governos e outras iniciativas".

MB - Você vê perspectivas de mudanças neste sentido?


FP - Talvez. Eu acho que as pessoas envolvidas precisam saber o que estão fazendo. Não é só apoiar o evento, mas ter gente que saiba fazer, que entenda da importância disso aqui. Fazer um evento de Vela é diferente de fazer qualquer outro esporte, é preciso reconhecer isso, é preciso que os envolvidos tenham um legado e responsabilidade com o que estão realizando.

 

Salvador recebe a TJV desde 2001, sendo anfitriã em 2003, 2005 e 2007. Em 2009 perdeu o posto para a Costa Rica e em 2013 para Itajaí, em Santa Catarina. O retorno à capital baiana só aconteceu em 2017 e mais uma vez este ano, pela sexta vez, recebendo mais de 100 velejadores e 59 barcos de 11 países.

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