Num momento em que entidades internacionais alertam para a continuada diminuição das espécies selvagens ao redor do mundo, o Brasil tem ao menos um grande motivo para comemorar: a recuperação espetacular das baleias jubarte em nossas águas. Um censo aéreo recém realizado pelo Projeto Baleia Jubarte, em parceria com a empresa Socioambiental e com apoio financeiro da Veracel Celulose e da Petrobras, confirmou que a espécie está se aproximando da recuperação plena no país, após ter sido quase extinta pela caça indiscriminada ao longo de mais de 300 anos no Brasil e ao redor do mundo. A avaliação dos dados do censo acaba de ser processada pelos cientistas, e aponta a existência de cerca de 25.000 jubartes na população brasileira.
O censo aéreo, que os pesquisadores consideram ser o mais extenso do mundo para o estudo de baleias, acontece há 21 anos e cobriu nesta temporada de reprodução das jubartes uma distância de 6.204 Km, entre a divisa do Ceará e Rio Grande do Norte e o litoral norte de São Paulo, e abrangeu desde a linha de costa até uma profundidade aproximada de 500 metros, já que as jubartes preferem ficar sobre a plataforma continental quando chegam ao país para se reproduzir.
Segundo a pesquisadora associada do Projeto Baleia Jubarte, a bióloga Márcia Engel, “a realização do censo na primeira quinzena de agosto, que corresponde ao pico da temporada reprodutiva, nos permite obter uma ‘fotografia’ adequada da presença das jubartes no Brasil, num momento em que praticamente todas as baleias que migraram desde as áreas de alimentação nas águas subantárticas já chegaram e nenhuma ainda iniciou a migração de volta”.
Foram avistados nos sobrevoos 643 grupos de baleias-jubarte. O outro biólogo responsável pela pesquisa, Leonardo Wedekin, ressalta que além de sero mais extenso do mundo, o censo das jubartes brasileiras é também um dos mais longevos, com mais de duas décadas de trabalho contínuo. Segundo ele, “cobrir a totalidade da área reprodutiva das jubartes no Brasil nos permite realizar um trabalho científico inestimável, com a realização de uma estimativa populacional mais precisa, um conhecimento melhor da distribuição das baleias, e o entendimento da reocupação das áreas extremas dessa distribuição, como Rio Grande do Norte e São Paulo, onde um número crescente de avistagens confirma a expansão do uso de nossas águas pela espécie.”
Um dos fundadores do Projeto Baleia Jubarte e que acompanhou todo o esforço de proteção da espécie nesses últimos 34 anos, Enrico Marcovaldi relembra que quando o trabalho começou, durante a implantação do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, meados da década de 80, “sequer se sabia que as jubartes ainda existiam por lá. Com a constatação de que havia uma população sobrevivente de talvez umas 500 baleias na região é que se iniciou o Projeto Baleia Jubarte. Depois dessas décadas de atuar na proteção delas, ver agora essa população quase totalmente recuperada dá uma enorme alegria e a sensação do dever quase cumprido. Quase, porque sempre temos que atuar pra evitar que elas voltem a ser ameaçadas por impactos das atividades humanas”,
completa.
O censo aéreo também permite identificar e avaliar as áreas onde atividades humanas possuem mais potencial de interagir com a presença das baleias. O Diretor Geral do Projeto Baleia Jubarte, Eduardo Camargo, considera que “o volume e a qualidade das informações científicas geradas pelo censo, combinadas com as demais atividades de pesquisa de campo embarcadas que o Projeto desenvolve, nos permitem antever as ações necessárias para assegurar que as jubartes brasileiras sejam protegidas adequadamente de novos impactos, como o emalhamento em redes e colisões com grandes embarcações, e contribuir com nosso conhecimento para formular as políticas públicas adequadas para a proteção da espécie e seu ambiente.” Camargo, que acaba de retornar da reunião plenária da Comissão Internacional da Baleia, afirma ainda que o Brasil está bem posicionado no cenário global como liderança na pesquisa e conservação dos grandes cetáceos, e que o Projeto espera contribuir para expandir a cooperação regional no tema em todo o Atlântico Sul, a partir do compartilhamento de seu expertise e dos dados científicos que vem adquirindo em mais de três décadas de trabalho.
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