Entre navegadores, acho bastante oportuna a abordagem sobre viagens mais longas ao longo da costa brasileira ou travessias oceânicas. Para reflexão, acho importante comentar que os requisitos necessários para obter habilitação amadora tipo Arrais amador (ARA), exige comprovação prática na condução de embarcação, sem vincular o tipo, ocorrendo na maioria dos casos em lanchas. Já os exames feitos para obter habilitação tipo Mestre Amador (MSA) e Capitão Amador (CPA), exigem apenas conhecimentos teóricos, não requerendo qualquer comprovação prática, ou seja, a habilidade de velejar não é exigida nem para o mais alto grau das habilitações amadoras.
Este cenário, associado à inexistência de cursos oficiais para formação de velejadores voltados para realizar navegações oceânicas, faz com que este público seja formado por autodidatas e aprendizes sempre atentos aos mais experientes e profissionais deste ramo.
Notamos que o sonho de adquirir e comandar o seu próprio veleiro para lugares mais distantes, está se tornando cada dia mais comum, sempre simbolizado como uma grande aventura e fonte de belas histórias para contar, mas existem grandes riscos, e para que as aventuras tenham sempre um final feliz é preciso uma boa bagagem de preparo.
Uma travessia mais longa requer um barco muito bem preparado, comandante com boa experiência e tripulação com aptidão para a jornada.
Nos tempos atuais, a facilidade e velocidade de acesso aos meios de comunicação, tem proporcionado um aprendizado e troca de informações muito úteis, principalmente para os iniciantes e este é o lado positivo. Por outro lado, as trocas de informações podem encorajar muitas pessoas para missões para as quais ainda não possuem o devido preparo, e este é um ponto de alerta importante.
Como exemplo recente, podemos citar o caso de um veleiro em travessia oceânica da Caribe para o Brasil, com tripulação experiente, que veio a perder o mastro a cerca de 1.000 milhas da Costa, e necessitou de uma considerável operação de resgate no través de Belém. Neste caso, comandante e tripulação experientes foram decisivos no controle da situação e localizador via satélite permitiram equipes em terra providenciarem o resgate, ficando como aprendizado ter a bordo equipamentos de comunicação eficazes para longas distâncias e reserva de combustível suficiente para utilizar o motor em caso de perda de mastro.
Em outro exemplo recente, podemos citar um veleiro de pequeno porte (23 pés), em travessia costeira de Salvador/BA para Vitória/ES, que veio a encalhar em uma praia em Canavieiras/BA. Neste caso, conforme relatos, influenciaram na ocorrência ter apenas um tripulante no barco, o barco havia sido adquirido recentemente, e o período do ano desfavorável para este trajeto, em função da direção do vento predominante Sul e ocorrência de frentes frias, podem indicar uma menor experiência do comandante neste tipo de navegação.
Em resumo, para travessias mais longas, é recomendável revisar a mastreação e velas do barco com bastante critério, ter o motor revisado, confiável e quantidade de combustível que lhe dê autonomia para chegar a costa, caso ocorra qualquer problema associado às velas ou mastro, dispor de sistemas de localização e comunicação aptos a operar nos locais por onde vai passar, possibilitando pedir algum tipo de auxilio, se necessário e ter comandante com bagagem mínima de experiência para a viagem. E os iniciantes? Praticar bastante, em regatas, viagens mais curtas e sempre que for necessário contar com a companhia de amigos experientes ou contratar experientes profissionais da área.
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