Com um crescimento acelerado desde a pandemia, o setor náutico brasileiro se tornou um segmento atrativo para quem busca uma recolocação ou vaga com chances de especialização no mercado de trabalho. Segundo a Acobar (Associação Brasileira dos Construtores de Barcos e Seus Implementos), o setor náutico arrecadou R$750 mi de impostos em 2021 e passou para R$1 bilhão em 2022. O faturamento também cresceu entre os anos citados, foi de R$2 bilhões para R$2,5 bilhões. Ainda de acordo com a Associação, o número total de empregos diretos e indiretos gerados no segmento foi de 85 mil para 100 mil entre os anos apresentados.
Dessa forma, as empresas relacionadas ao setor se aprimoram constantemente para oferecer vagas de trabalho compatíveis com o crescimento do mercado. De acordo com Gabriela Lobato Marins, CEO da BR Marinas, o brasileiro descobriu o mar durante a pandemia e não abandonou mais o barco. Com as restrições de acesso às praias e as dificuldades para a realização de viagens, muitas pessoas viram nas águas uma forma de lazer seguro com amigos e família, livre dos riscos de contágio. “Um fenômeno que gera empregos, movimenta a economia e que veio para ficar”, enfatiza.
A BR Marinas tem crescido e tem planos de continuar a expandir, com a aquisição de novas marinas e devido ao aumento da demanda por vagas de barco em suas marinas já existentes. Atualmente, 24% dos colaboradores têm entre 3 e 19 anos de empresa, e 20% têm até 2 anos. O grupo oferece um plano de carreira para o crescimento profissional de todos os colaboradores, com vagas internas divulgadas na intranet. A empresa também oferece treinamentos internos de atualização e aperfeiçoamento em cada setor, e emprega aproximadamente 330 colaboradores diretos.
O Brasil cada vez mais se dá conta que o setor náutico é um importante fomentador da economia nacional, segundo Gabriela, CEO da BR Marinas. Ela também destaca que no mar, apenas uma embarcação pode oferecer 6 oportunidades de trabalho – um número expressivo para o setor e que reflete o seu potencial.
“A mão de obra no setor náutico é especializada e deve ser treinada, portanto, é uma excelente oportunidade para o trabalhador adquirir conhecimento e, consequentemente, melhor remuneração, pois o ticket salarial médio no setor náutico é maior do que em muitos setores da economia”, afirma o presidente da Acobar, Eduardo Colunna.
A BR Marinas Verolme, localizada na Costa Verde fluminense, é o maior polo náutico da América Latina e a unidade do grupo que emprega o maior número de colaboradores, com 144 atualmente. A maior rede de marinas do Brasil, possui oito pontos de atracação: Marina da Glória, Verolme, Ribeira, Bracuhy, Piratas, Búzios, Itacuruçá e Paraty. Todas são geridas de acordo com os critérios ESG (Ambiental, Social e Governança).
“Outro movimento gerado pelo crescimento da busca do lazer náutico é o aumento do tamanho das embarcações. A média, que antes da pandemia era de 29 pés, passou agora para 38 pés. Esse fenômeno está gerando adequações nas marinas para receber esses clientes”, afirma Cláudio Wilson, diretor comercial da BR Marinas.
Qualificação no segmento
Colunna destaca os cursos técnicos como incentivadores para o aumento de mão de obra e interesse na área, além de auxiliar na formação. Entretanto, ele ressalta que o crescimento e especialização de forma interna nas empresas é o caminho com bastante potencial para ser seguido.
“Existem oportunidades e pouca mão de obra qualificada, por ser um setor muito específico e quase não existir concorrência. Na maioria dos cargos náuticos, precisamos treinar as pessoas e até custear cursos de arrais, por exemplo. Cargos de liderança geralmente são construídos internamente, as pessoas vão crescendo até se tornarem líderes dos setores e das marinas, aprendem tudo internamente. Não existe muita mão de obra neste setor, apesar do crescimento. Então quem se especializar hoje já sai na frente”, explica Karime Pavan, gerente de RH da BR Marinas.
Além da possibilidade de crescimento, a Kapazi Náutica, empresa que fabrica tapetes e pisos náuticos, destaca a história que o funcionário constrói dentro da empresa. Ela emprega cerca de 80 funcionários atualmente, os quais se dividem entre recém-chegados e outros que se especializaram e foram promovidos ao longo dos anos. A empresa faz parte da Kapazi, que é especializada na fabricação de tapetes, capachos e estofados e que possui mais de 40 anos de história.
Fernando Soares, gerente comercial da Kapazi Náutica, destaca a expansão da marca nos últimos anos especialmente com o fortalecimento do setor náutico. Dessa forma, é necessário aumentar a equipe e difundir negócios, tudo isso alinhado com a busca por pessoas com o perfil que possa agregar na empresa, sem necessariamente ter experiência no mercado.
Hugo Leonardo Assis, CEO da Barco Show Eventos, acredita que a questão da mão de obra é uma pauta nacional, já que existe deficiência em todas as regiões do nosso país. "Acredito que deveria existir um maior incentivo do poder público ao setor náutico, a fim de, através de uma parceria público-privado com as empresas, é possível colocar mais mão-de-obra qualificada no mercado", afirma. Ele também ressalta o estado de Santa Catarina e a necessidade do incentivo fiscal e estrutural que, segundo ele, seria fundamental para o crescimento do setor. No caso do estado do sul, ele gera grandes resultados o que ocasiona uma maior arrecadação de impostos do segmento náutico da região. "Considerarmos que, a cada uma estrutura náutica com 300 embarcações são movimentados cerca de 100 milhões de reais por ano", diz o empresário.
Leandro Bonelle, CEO da Kamell Comércio Global, empresa de atacado náutico, destaca a política colaborativa da empresa como forma de manter os funcionários motivados e engajados, o que contribui para uma cultura organizacional positiva. O empresário também ressalta os treinamentos oferecidos pela Kamell a fim de criar ainda mais oportunidades de crescimento para os funcionários desde a sua contratação até o decorrer de sua carreira profissional. Ele enfatiza que – geralmente - os funcionários são capacitados com o objetivo de crescimento e especialização no segmento dentro da organização.
Setor Náutico vs. Outros setores
É comum comparar o mercado náutico e o automobilístico, mas sua fabricação possui demandas diferentes. De acordo com Paulo Thadeu Mendes, vice-presidente da Acobar, para aumentar a produção no mercado náutico é necessário aumentar o número de funcionários, já que a construção é completamente artesanal e depende diretamente da mão de obra. Enquanto no mercado automobilístico, é possível aumentar a produção com o uso apenas de máquinas. Além disso, no setor náutico há a adição de insalubridade e os salários são mais altos do que em outras indústrias em função disso. “Isso permite que as pessoas aprendam a profissão na prática e tenham a oportunidade de crescer profissionalmente, mesmo sem uma formação técnica específica. É interessante ver como a indústria náutica pode oferecer oportunidades de emprego e crescimento profissional para pessoas que poderiam não ter essas oportunidades em outras áreas”, ressalta.
Segundo números divulgados pela Acobar, para cada 1.000 embarcações construídas, são gerados 8.000 empregos diretos e indiretos. Uma embarcação de recreio gera mais empregos por reais (R$) investidos do que um navio, haja visto que na indústria náutica as instalações e os equipamentos são bem menos requisitados, portanto, a mão-de-obra é de suma importância. Com a produção em média de 3.500 barcos por ano, geram-se 18.500 postos de trabalho. Para efeito de comparação, na construção de um prédio de 12 andares são utilizados 27.000 homens/hora, o mesmo que se gasta para construir uma embarcação de 70 pés.
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