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  • Foto do escritorMar Bahia

A Bahia de Todos-os-Santos de Jorge Amado


“Esse é bem um estranho guia”, diz Jorge Amado no “Convite” que abre Bahia de Todos-os-Santos - Guia das Ruas e dos Mistérios da Cidade do Salvador, livro de cerca de 400 páginas que o escritor publicou ainda em 1945, traduzindo uma cidade única em sua essência de cheiros, personagens, mazelas, histórias e cais. “Com ele não verás apenas a casca amarela e linda da laranja. Verás igualmente os gomos podres que repugnam ao paladar”, continua Jorge.

Foto: Zelia Gattai/Fundação Casa de Jorge Amado

E quem melhor do que ele para fazer esse retrato de corpo inteiro da capital baiana? Pelas páginas deste livro desfilam as belezas arquitetônicas da metrópole - suas igrejas, átrios e palácios, suas ladeiras e ancoradouros -, bem como seus encantos naturais - praias, matas, morros, lagoas -, mas também o lado miserável da cidade, seus cortiços malcheirosos, a falta de saneamento e infraestrutura, o desamparo e a doença.

Foto: Fundação Casa de Jorge Amado

“A Bahia te espera para sua festa mais quotidiana. Teus olhos se encharcarão de pitoresco, mas se entristecerão também ante a miséria que sobra nestas ruas coloniais onde começam a subir, magros e feios, os arranha-céus modernos”.


Não se trata de um guia preocupado apenas com a descrição do pitoresco, mas de uma narrativa múltipla sobre o cotidiano da cidade e suas transformações ao longo das décadas. Do dia a dia do trabalhador braçal às receitas de quitutes baianos, da arte dos mestres da capoeira ao misticismo dos terreiros de candomblé, dos pequenos crimes dos “capitães da areia” à dura poesia dos pescadores e mestres de saveiros, da universidade às festas religiosas e pagãs, a vida de Salvador pulsa a cada parágrafo. Moradores da cidade, ilustres ou anônimos, são evocados aqui com a mesma vitalidade e frescor dos personagens dos romances do autor, convertido em cicerone que abre as portas de sua grande casa aos leitores do mundo.

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