Força-tarefa ambiental inicia remoção de coral invasor em Itaparica
- Mar Bahia
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Mergulhadores submersos trabalham desde a última sexta-feira (16), na Ilha de Itaparica, na remoção dos primeiros núcleos do coral invasor Chromonephthea braziliensis, espécie que ameaça os recifes nativos. Equipados com escovas de aço, espátulas e cilindros de oxigênio, eles formam a linha de frente da força-tarefa que, após meses de preparação, inicia uma das mais complexas operações ambientais já realizadas na Baía de Todos-os-Santos. A expectativa é que mais de 1,5 tonelada do coral invasor seja removida até terça-feira (20).

"É um trabalho de paciência e precisão", explica Zé Pescador, da ONG PróMar, que está coordenando a operação de remoção. “As equipes atuam em três pontos: na Marina de Itaparica, nas proximidades do navio afundado e na ponte próxima ao Forte da Marinha. É necessário eliminar completamente o coral do substrato — retirar cimentos, pedaços de pedra ou qualquer outro material usando espátula até que não reste praticamente nada”.
O método adotado é fruto de estudos realizados no início do ano por uma força-tarefa composta por pesquisadores, ONG Pró-Mar, Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) e do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema). A estratégia definida combina a remoção manual com aplicação de sal ácido em áreas específicas. “A limpeza completa é essencial para que o controle traga resultados”, destacou Tiago Porto, Diretor de Políticas e Planejamento Ambiental da Sema.
O Chromonephthea braziliensis tem uma estrutura flexível e aparência arbustiva. Sua ameaça destaca-se por seu crescimento acelerado que pode ultrapassar 1,6 metro de altura, alta capacidade de propagação e liberação de substâncias tóxicas que eliminam organismos nativos, incluindo corais locais, além de provocar reações alérgicas em banhistas e mergulhadores que entram em contato com a espécie.
Cooperação coletiva
A operação marca a primeira ação concreta do plano emergencial de combate ao coral invasor, iniciado em dezembro de 2024. Além da Sema, do Inema e da Pró-Mar, o esforço reúne a Marinha do Brasil, a Companhia de Polícia de Proteção Ambiental (Coppa), o ICMBio, o Ibama e instituições de ensino e pesquisa como UFBA, UFAL, USP, UFRPE e Senai/Cimatec. “Estamos diante de um desafio ecológico, e o combate a esse coral é parte de um conjunto de ações que integram o plano estadual de conservação dos recifes.”, destaca Tiago Porto. No estado da Bahia, os recifes de corais são protegidos como áreas de preservação permanente.

Segundo os pesquisadores, esse coral invasor não é reconhecido como presa por predadores naturais, o que favorece sua rápida proliferação. A espécie altera o ambiente marinho, levando ao desaparecimento de peixes nativos. Com o tempo, pode se sobrepor aos corais nativos, causando colapso ecológico e econômico nos recifes. “Embora nosso trabalho pareça minucioso como o de formiguinhas, ele é extremamente importante. Este é o primeiro projeto com real possibilidade de erradicar uma espécie invasora marinha”, avalia Rodrigo Maia, biólogo e pesquisador da UFBA.
Todo o material recolhido será dividido em duas partes. Uma será destinada ao aterro sanitário para descarte; a outra será encaminhada à Oficina Carbono 14, onde será processada, seca e posteriormente enviada ao Cimatec e à Embrapa. O objetivo é estudar possíveis aplicações e aproveitamentos do coral removido.
A mobilização só foi possível após o alerta de um pescador local, que reconheceu a presença de uma espécie estranha na região. A partir disso, pesquisadores iniciaram os estudos que levaram à operação. Para Carlinhos, presidente da Colônia Z12, a parceria com os órgãos ambientais é essencial. “Esses corais impedem a multiplicação dos peixes e afetam diretamente nossa renda. O diálogo com os órgãos é importante para resolver esse e outros problemas que enfrentamos no mar. O pescador é sempre o primeiro a perceber essas mudanças.”
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