É conversando e bordejando que a gente vai descobrindo os inúmeros talentos da nossa Baía de Todos-os-Santos. Um desses encontros foi a bordo do Sombra da Lua, quando batemos um papo com Izana Sacramento, natural de Jaguaripe e que compartilhou com o Site Mar Bahia sobre a sua ligação com os saveiros e a arte naval, produzindo réplicas em miniaturas das embarcações icônicas da nossa BTS.Confira a entrevista:
Mar Bahia - Desde quando começou a sua ligação com os saveiros? Sua família teve um papel importante nessa paixão?
Izana Sacramento - Minha ligação com os saveiros se aprofundou quando eu tinha 12 ou 13 anos, quando eu ingressei no curso de artesanato naval com o professor Bira Portugal. No entanto, eu já conhecia as embarcações desde criança, quando as via navegando aqui no rio. Minha família de criação tem raízes nos saveiros, como meu tio Jailton, que é dono e mestre do "É da Vida".
MB - Você nos contou que além de fazer miniaturas detalhadas dos saveiros baianos, também sabe conduzir os saveiros propriamente ditos. Fale sobre isso: quando começou, já navega na BTS, a bordo de qual, enfim, conta os detalhes pra gente...
IS - Quando eu comecei a realmente confeccionar as miniaturas o mestre Bira perguntou se eu já havia bordejado em um saveiro e eu falei que não, que tinha vontade, mas minha mãe não deixava. Foi quando ele me chamou um dia, minha mãe deixou e foi uma das experiências mais incríveis da minha vida. Desde então, bordejávamos quase todos os finais de tarde, após o curso. Ele começou a nos ensinar como manejar e governar o saveiro, dar nós, envergar vela, passar escota...
MB - E o processo das miniaturas? Quando começou e como vem se desenvolvendo?
IS - Começou desde criança, eu já fazia barquinhos de isopor, de papelão e de papel pra brincar. Em 2016/2017, Mestre Bira me convidou pra aprender a fazer as miniaturas em madeira. Eu as achava o máximo e aceitei logo de cara, desde então fui desenvolvendo e me aperfeiçoando nessa arte e hoje esse é o meu trabalho. Estou montando a minha oficina aos poucos, comprando maquinário e ferramentas pra que seja realmente algo que me dê retorno.
MB - Além dos saveiros, quais são os seus interesses, o que pretende nos próximos anos?
IS - Eu sou concurseira e vestibulanda, estou sempre fazendo concursos, vestibulares, cursinhos... Nos próximos anos eu pretendo estar concursada e estabilizada, mas nunca vou abandonar a minha paixão e continuar a produção das miniaturas.
MB - Muita gente sequer imagina que uma mulher e jovem com você já vem traçando esse perfil tão diferenciado. Como você vê seu talento e aptidões?
IS - Humm, pergunta difícil (Risos)! Eu vejo como algo diferente, eu espero ser espelho para os jovens da minha faixa etária a não desistirem dos estudos, a se apegarem em algo, seja na arte como eu ou em qualquer outra coisa. Sobre o meu talento e aptidões eu acredito que eu sou capaz de fazer tudo o que eu me proponho, por mais que seja difícil, se eu me propus, eu vou fazer. Eu costumo dizer que na vida temos que aprender de tudo um pouco, não precisa ser perfeito, só precisa saber fazer.
MB - E o público masculino como lida com isso?
IS - No início tinha um certo preconceito, mas nada que eu não pudesse enfrentar, se
tornou algo normal com o tempo, mas ainda se espantam. Lá na oficina eu sempre fui a única menina, entraram umas duas depois de mim, mas ninguém ficou, só eu mesmo.
MB - Quem é a sua maior inspiração e por que?
IS - É difícil dizer a minha maior inspiração porque eu me inspiro em várias pessoas de áreas bem distintas, mas se for sobre as miniaturas, me inspiro muito em Bira, além de ser um cara excepcional no que ele faz, ele sabe passar muito bem e de forma que não tenha muita dificuldade no entendimento.
MB - Fale um pouco sobre como é a sua relação com a Baía de Todos-os-Santos.
IS - Eu tenho uma ligação muito forte com o mar, tenho isso tatuado até. Pra mim é algo energizante e revigorante. Estar na BTS, seja navegando ou se banhando pra mim é algo surreal, me surpreende e me revigora todas vezes, eu nunca vou recusar a oportunidade de estar sobre ela.
MB - Como você enxerga o futuro dos saveiros baianos?
IS - Eu espero que mude o rumo, os saveiros, infelizmente, estão morrendo. Está cada dia mais difícil e mais custoso de manter um saveiro. O ofício de mestre carpinteiro também está se perdendo, se não existir alguma forma de recuperar ou repassar, vai morrer com os poucos mestres que ainda existem. Eu fico feliz que ainda existem pessoas, que assim como eu, são apaixonadas pelos saveiros e estão na missão de não deixar esses gigantes dos mares morrerem, no entanto não é uma missão fácil, mas não iremos desistir.
Quem desejar encomendar miniaturas de saveiros, pode entrar em contato com Izana pelo (75) 998512343 ou pelo instagram @iza_sacramento.
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