Quem é acostumado a pegar as famosas "lanchinhas" que fazem a travessia entre Salvador e Mar Grande sabe da eterna dificuldade encontrada por baianos e turistas, que dependem das variações de maré para que a viagem aconteça. Isso acontece devido à profundidade existente no atracadouro atual, que não permite que as travessias aconteçam de forma independente na maré baixa, fazendo com que as embarcações não consigam atracar.
A solução para um problema de décadas foi anunciada pelo Governo do Estado em 2014 e executada este ano pela Secretaria de Infraestrutura do Estado (Seinfra), que autorizou o início das obras de dragagem para alargamento do canal, em um investimento de R$ 7,8 milhões e prazo para conclusão em oito meses. Entretanto, uma série de consequências ambientais têm sido apontadas por moradores e representantes como a ONG Pró-Mar, que formalizou uma denúncia junto ao Ministério Público, pedindo o embargo da obra. Ao Mar Bahia, o presidente da ONG compartilhou o problema.
"A obra é importante para todos, mas o X da questão é a forma como está sendo feita. A empresa responsável não teve o cuidado de impermeabilizar a área onde são despejados os materiais retirados pela dragagem (que vem com água salgada) e a consequência disso é a salinização do lençol freático da região, prejudicando diversos moradores e empresários, devido à contaminação do subsolo, fazendo com que a água que saia nas torneiras seja salobra", declara Zé Pescador, presidente da Pró-Mar.
Com a dragagem está prevista a retirada de mais de cem mil metros cúbicos de pedras e rochas que estão submersas no canal e que impedem a plena navegação. De acordo com informações oficiais, o canal passará a ter profundidade média de quatro metros.
"Foi construído uma espécie de dique onde o material dragado é lançado. Com isso, todo o lençol freático de Mar Grande está sendo comprometido, prejudicando uma estância mineral riquíssima como essa que existe aqui na ilha. Por isso, da forma como está sendo feita não há condições de continuar com essa ação devastadora. Uma outra coisa importante a destacar é que para uma obra desse porte, em uma área de conservação ambiental como a de recifes de corais nessa região", seria necessário um estudo muito mais aprofundado, como o EIA RIMA, do que uma simples autorização, de uma forma muito simplória", alerta Zé.
Um inquérito civil foi aberto pela 2ª Promotoria de Justiça de Itaparica, para apurar a concessão de licença ambiental para a obra (de responsabilidade da Metro Engenharia) pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) e verificar o impacto ambiental.
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