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  • Foto do escritorMar Bahia

Baleias e embarcações: mitos, fatos e prevenção de acidentes

*Por José Truda Palazzo Jr e Gustavo Rodamilans

Coordenadores do Projeto Baleia Jubarte


Em tempos recentes, muitas histórias têm circulado na internet sobre supostos “ataques” de baleias-jubarte a embarcações. Da narrativa da perda de um veleiro em uma colisão com alguma coisa – que ninguém viu ser uma baleia, apenas presumiram que era por terem avistado grande número delas em rota, pelo que aguardamos as conclusões do inquérito da Marinha – até vídeos fantasiosos de uma jubarte juvenil nadando junto a um barco de pesca com áudio de exclamações algo descabidas sobre ela estar “atacando”, a comunidade de navegadores acaba ficando, com justa razão, preocupada.


Até porque, de fato, estão sendo vistas muitas baleias-jubarte nas águas brasileiras nesta temporada de reprodução; em plena recuperação populacional depois de centenas de anos de matança, estima-se que entre 20.000 e 25.000 jubartes frequentem hoje nossas águas para se reproduzir no inverno e primavera. Mas para assegurar uma convivência mais tranquila com as baleias, é preciso primeiro separar fatos de mitos, e depois entender um pouco como podemos tentar minimizar as chances de um incidente desagradável para ambos – barco e jubarte.

Foto: Eduardo Melo - Projeto Baleia Jubarte

Primeiro de tudo, é preciso reiterar que não existem casos registrados de “ataques” de baleias-jubarte a embarcações. Aqui no Projeto Baleia Jubarte somos a melhor prova de que elas não são agressivas: em 34 anos de trabalho junto a elas, nos aproximando muito e muitas vezes realizando biópsias de pele e gordura – sempre com a devida licença de pesquisa – nunca registramos qualquer comportamento agressivo das baleias para com nossa embarcação. Existem, sim, casos de colisão, principalmente com veleiros que são objetos silenciosos deslizando à superfície. E, recentemente, também vimos um caso de baleia saltando e caindo sobre uma lancha, dentre diversas que a estavam cercando, desrespeitando completamente as recomendações para uma avistagem segura desses animais magníficos.


Para prevenir esses acidentes, há algumas coisas que se pode fazer. Primeiro que tudo, navegando entre junho e outubro, durante o dia manter sempre um observador buscando localizar baleias que porventura estejam nas vizinhanças, detectando seu rumo e realizando ajustes conforme necessário. À noite ou mesmo de dia em condições de baixa visibilidade, além de reduzir a velocidade, manter o motor ligado sempre que possível, ou mesmo tocar suas músicas favoritas no interior do barco, de forma que elas possam eventualmente ser ouvidas na água pelas baleias.


Detectar sua presença é a melhor forma delas evitarem colidir com sua embarcação. Também é recomendado evitar sempre que possível as áreas de maior concentração sazonal das jubartes, como o Banco dos Abrolhos. Organizadores de regatas e navegadores interessados em reduzir sua chance de problemas podem consultar o Projeto Baleia Jubarte através de suas bases de Ilhabela (SP), Vitória, (ES), Caravelas (BA) e Praia do Forte (BA) para saber detalhes das concentrações eventualmente detectadas no seu trajeto pretendido.


O caso de jet-skis, canoas havaianas e caiaques, cujos tripulantes em geral querem se aproximar das baleias para vê-las bem de perto, é mais complicado. São meios frágeis, muito vulneráveis a danos materiais e pessoais se houver um acidente. Nestes casos, seguir a norma federal para observação de cetáceos (Portaria IBAMA 117/96) e respeitar a distância mínima de 100 metros da baleia mais próxima, e evitar a aproximação a animais com comportamentos vigorosos, como saltos e batidas de cauda, é o mais apropriado.

Foto: Enrico Marcovaldi

Há outros desafios na relação entre baleias e embarcações, mas relacionados a grandes navios. Estima-se que centenas ou milhares de baleias morram atropeladas anualmente, em razão da alta velocidade desenvolvida pelos navios modernos e a dificuldade que as baleias t6em de detectar sua chegada a tempo. Para minimizar esse problema, o Instituto Baleia Jubarte vem trabalhando junto às empresas de navegação e autoridades portuárias de diversas partes do Brasil para melhor entender os riscos e coordenar ações que minimizem o impacto da navegação comercial na recuperação das nossas populações de grandes baleias.


A presença de baleias ao longo de nossa costa deve ser celebrada, não temida. Elas são componentes essenciais do ecossistema marinho, armazenando e ajudando o oceano a armazenar mais carbono, fertilizando as águas e melhorando a pesca, e gerando emprego e renda através do Turismo de Observação nas nossas comunidades costeiras. Saiba mais sobre elas e como realizar uma avistagem segura consultando nosso Guia de Observação de Baleias, o Manual de Boas Práticas e a Lista de Operadoras Parceiras; adote medidas precautórias e esteja sempre atento enquanto navega; e desfrute assim de forma segura do privilégio de compartilhar o mar com essas gigantes extraordinárias!


* Sobre o Projeto Baleia Jubarte

Atuando há mais de 30 anos na pesquisa e conservação das baleias-jubarte e do ambiente marinho no Brasil, o Projeto Baleia Jubarte, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, integra a Rede BIOMAR juntamente com outros projetos patrocinados pela empresa (Projeto Albatroz, Coral Vivo, Golfinho Rotador e Meros do Brasil), que atuam de forma integrada na conservação da biodiversidade marinha do Brasil.


O Projeto Baleia Jubarte é realizado pelo Instituto Baleia Jubarte a partir de suas sedes na Praia do Forte e em Caravelas, Bahia, e em Vitória, no Espírito Santo. Por meio deste projeto são realizadas ações de pesquisa científica, turismo responsável, ações de educação ambiental, bem como atividades de conservação que tem contribuído para o sucesso da recuperação da população de jubartes do atlântico sul ocidental. Mais informações sobre as atividades podem ser obtidas em www.facebook.com/projetobaleiajubarte, www.instagram.com/projetobaleiajubarte e em www.baleiajubarte.org.br.

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