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Isabela Suarez: "A BTS sofre com o descaso, não permitindo que ocupe o lugar que merece"

Advogada, empresária do segmento imobiliário, coordenadora do Núcleo de Sustentabilidade, Meio Ambiente e Inovação da Associação Comercial da Bahia, membro da Comissão de Meio Ambiente da OAB/BA e quem está à frente da Fundação Baía Viva, em um dos mais bem sucedidos projetos na Baía de Todos-os-Santos: a Ilha dos Frades.

O Mar Bahia conversou com Isabela Suarez, que falou não apenas sobre a gestão da ilha, como seu olhar sobre o turismo, projetos e o futuro da BTS.

 

MAR BAHIA - A Fundação Baía Viva está completando 22 anos de atuação na Baía de Todos-os-Santos. Ao longo de duas décadas, quais as mudanças que mais impactaram no trabalho desenvolvido por vocês?


ISABELA SUAREZ - Sem dúvida, as obras de infraestrutura e recuperação das duas capelas seculares da ilha: Nossa Senhora de Guadalupe e Nossa senhora do Loreto. Foi a partir desses intervenções que reposicionamos o destino e conseguimos chamar atenção para o que há de mais especial na Baía de Todos-os-Santos: seu patrimônio histórico!


Tem sido grande o aumento da procura do público pela Ilha dos Frades. O que muda no dia a dia da ilha em termos de preservação da natureza e manutenção da segurança e patrimônio?


IS- Os pontos negativos que normalmente aparecem com o aumento de número de visitantes tendem a ser mitigados desde quando exista ordenamento, regulamentação das normas e presença forte da iniciativa privada. O preservacionismo absoluto não vem dando bons resultados quando já existe ocupação, que no caso da Baía de Todos- os-Santos é predominantemente precária e subdesenvolvida. Não podemos ignorar o fato que ali residem pessoas e todas elas demandam serviços básicos e essenciais à dignidade humana: água, saneamento, saúde e educação. Na Ilha dos Frades existem proteções de natureza legal que determinam limitações e regramentos em relação a algumas práticas, e esses ajustes são fundamentais para a preservação da biodiversidade. Nesse sentido, destaco a contribuição da polícia ambiental com instalações viabilizadas pela fundação dentro da ilha.

"Gosto de chamar atenção para o que vem acontecendo na praia de viração por exemplo: mesmo com todo o apelo preservacionista, os frequentadores normalizam o descarte de resíduos no mar. Condutas de proteção ao meio ambiente deveriam ser a regra, mas ainda é uma realidade distante. Nesse sentido, o balizamento é um grande aliado no combate à poluição das praias, uma vez que garante a boa balneabilidade da água".

Apesar das contribuições realizadas pela Baía Viva, muitas pessoas questionam o isolamento da praia com boias, a taxa de proteção cobrada aos visitantes e ao avanço da atuação da Fundação em outras localidades, como Bom Jesus. Qual a sua avaliação a respeito?


IS - Pelo contrário. A maioria não reclama e sim apoia. A ideia de resistência só parte de quem desconhece o lugar e não sabe o que essas ações representam no dia a dia de quem vive na região. As boias são fundamentais para a proteção dos banhistas que sofrem diariamente com a imprudência de condutores náuticos além de ter sido um fator preponderante na conquista de uma das certificações ambientais mais importantes do mundo que é o Bandeira Azul. Sem uma boa balneabilidade da água jamais teríamos a primeira praia certificada do Norte/Nordeste, já que antes das boias o que se via era uma sequência de descartes de resíduos sem nenhuma responsabilidade ambiental.

Foto: Divulgação

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A pandemia colocou em xeque a relação do homem com a natureza. A sociedade clama pela preservação, mas ao mesmo tempo não quer mudar o comportamento. Quanto a taxa, essa decorre de uma iniciativa acertada do Estado da Bahia em privatizar o terminal de ponta de nossa senhora através do regime de concessão, que nada mais é do que a transferência da execução de um serviço público para o particular. Essa descentralização das obrigações do estado é fundamental para o bom desenvolvimento do nosso turismo e graças a essa tarifa, quem visita o local hoje, encontra equipamentos conservados e com excelente qualidade.


"Mais uma vez, não existe mágica quando se trata de turismo. E se o caminho escolhido for o do amadorismo, a Bahia e o Brasil não terão nenhuma chance de competitividade sem apoio da iniciativa privada".

No que diz respeito ao avanço dos trabalhos da Fundação, nosso estatuto permite a atuação em qualquer lugar da Baía de Todos-os-Santos. Os investimentos em Bom Jesus dos Passos são absolutamente naturais diante do impacto que a ilha tem na região, já que é um importante setor de serviço e por isso fundamental ao desenvolvimento de qualquer projeto. Perdoem-me os críticos, mas “ Bomja” ( apelido carinhoso dado a ilha) vive hoje o seu melhor momento desde que iniciamos nossa colaboração. Se existe alguma insatisfação ela vem de raríssimas exceções.


MB - Um dos assuntos mais discutidos no meio náutico é a questão da segurança no mar, sendo a Ilha dos Frades um ponto considerado um dos mais seguros atualmente. Como é feita a atuação Companhia de Polícia Ambiental, em terra e mar neste caso? Existem planos de expansão da atuação da polícia para manutenção da segurança nos espaços geridos pela Fundação?


IS - Todos os espaços que recebem a colaboração da Fundação Baía Viva (FBV) já são monitorados e fiscalizados pelo COOPA. A função primária da Polícia Ambiental é basicamente a fiscalização de ações irregulares que atingem o meio ambiente. Na parte terrestre, o patrulhamento é feito de forma recorrente nas praias e nas áreas de floresta; no mar o maior desafio é combater a pesca predatória. Para que essas operações ocorram plenamente a FBV dá todo apoio logístico, sobretudo no que envolve combustível e a manutenção dos equipamentos.


Em relação à expansão da atuação do COPPA, estamos negociando com a Prefeitura de Saubara. Entretanto, aumentar a capacidade operacional do COOPA, significa contar com mais efetivo policial para outras regiões, ou seja, mais equipamentos náuticos, o que no momento de restrições orçamentárias do Governo do Estado, fica mais difícil.

Foto: Divulgação

MB - A questão da sustentabilidade também é pauta constante em muitas esferas, sobretudo a da gestão da Baía de Todos-os-Santos. Como a Fundação trabalha com a emissão de dejetos e descarte do lixo produzido, além da conscientização da população que vive e visita a ilha?


IS - A conscientização em relação a emissão e descarte do lixo está diretamente ligada ao nível de comprometimento sustentável dos que residem e também dos que visitam esses destinos. Nas Ilhas dos Frades e Bom Jesus dos Passos a Fundação anualmente promove ações de educação ambiental que ajudam e despertam uma consciência coletiva no que diz respeito a necessidade de cuidar e preservar os recursos naturais.


Tanto na Ilha dos Frades como na Ilha de Bom Jesus dos Passos, a Fundação construiu Estações de transbordo, dotadas de Píer para Embarque de todo o lixo recolhido, o qual é transportado para a Ilha de Madre de Deus, ali acondicionado em caminhões próprios e transportados para o lixão mais próximo. O município de Salvador e a Fundação estão negociando a instalação de trituradores de material de construção, tanto na Ilha dos Frades, como em Bom Jesus dos Passos, e evitando assim o lançamento de restos de obra na maré, como era feito comumente.

Foto: Divulgação

MB - A situação de um dos maiores cartões da BTS, o Forte São Marcelo, segue sem desfecho para fins turísticos e culturais. O que acha que poderia ser feito em um espaço tão icônico?


IS - O Forte de São Marcelo é uma joia da arquitetura militar mundial. Inclusive será listado proximamente como Patrimônio da Humanidade. Ele é o último exemplar de sua tipologia, erguido sobre uma coroa, e está totalmente inserido na história da BTS. Guarda profunda relação, não apenas com o Recôncavo, a Bahia e o Brasil; São Marcelo é uma referência no Atlântico Sul. A FBV desenvolve um estudo preliminar para o lugar, que impacta minimamente o belíssimo patrimônio restaurado e ainda recria a atmosfera da paisagem tradicional da velha Salvador. Tudo inspirado em Pierre Verger e no eminente estudioso português Agostinho da Silva. Estamos prontos para colaborar.


"A Baía de Todos-os-Santos é o maior ativo histórico e ambiental do nosso Estado, foi berço do Brasil e abrigou o maior porto do Hemisfério Sul durante todo o período colonial. Esses registros ainda podem ser vistos (fortificações, engenhos, igrejas, etc..) contudo, infelizmente a BTS sofre com descaso e falta de estratégia no seu planejamento, não permitindo que ocupe o lugar de destaque que merece".

MB - A Fundação vê possibilidades de novos acordos de cooperação técnica para atuação em outras localidades da BTS?


IS - Certamente. A Fundação está à disposição para colaborar sempre que demandada, sobretudo na identificação dos potenciais e atrativos turísticos, bem como, na manutenção e recuperação do nosso patrimônio. Contudo, sabendo que a BTS é uma área de proteção ambiental e que diferentemente do município de Salvador, que possui um planejamento de ocupação, proteção e expansão já definido, a atuação em outras localidades fica prejudicada pela falta de direcionamento de investimento na recuperação do Patrimônio Histórico e na indefinição do Conselho Gestor da APA/BTS, fragilizando assim, esse tipo de colaboração.


MB - Como avalia a projeção da Ilha dos Frades nos próximos anos e quais os planos da Fundação a partir de agora?


IS - Vivemos o momento de consolidação de toda infraestrutura que foi viabilizada e que hoje permite o renascimento da Ilha como destino turístico. Apesar das conquistas, ainda existem obstáculos a serem superados, na minha opinião o maior deles e a capacidade de atender o turismo náutico a altura do potencial da BTS. Viabilização de marinas, capacitação de mão de obra, desburocratização na aprovação de empreendimentos sustentáveis de excelência são fundamentais para que possamos ter a chance de competir com outros destinos. Ou vamos superar esses entraves ou ficaremos eternamente com as expectativas apenas no campo das ideias.


MB - O melhor e o pior do mar da Bahia é...


IS - O melhor: águas quentes, calmas e absolutamente navegáveis. O pior: a falta de interesse das autoridades estaduais na recuperação do Patrimônio e na criação de infraestrutura turística. O PRODETUR levou 12 anos na gaveta. Só agora está em andamento. Já deveríamos estar no PRODETUR XV. Não vamos esquecer que a atividade econômica do Brasil até o ano de 1800 estava quase toda inserida dentro de nossa Baía.


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