Um pé nos palcos outro no mar. Assim, o cantor e o navegador Leo Macedo, da banda Estakazero, divide o seu tempo. E entre um forró pé de serra e uma boa velejada, nasce uma outra carreira pioneira, que vem se destacando no cenário artístico e no segmento náutico. O Mar Bahia bateu um papo com ele, que detalhou um pouco de como nasceu as suas trajetórias – a bordo e em terra firme.
MAR BAHIA - A maioria das pessoas conhece o cantor Leo, do Estakazero, mas poucas conhecem o Leo velejador. Fale um pouco sobre como começou sua relação com o mar.
LEO MACEDO – Minha relação com o mar começou desde muito cedo. Sempre frequentei muito a praia, não tinha muita influência da família nem barcos, mas tínhamos casa de veraneio em Piatã, quando ainda eram poucas por lá. Depois comecei a pescar, mergulhar e quando fazia passeios de escuna ou navegava eu sentia alguma coisa diferente. Havia um tesão especial naquilo. Eu ficava sempre na proa observando e me apaixonei de vez quando comecei a ler o livro “Cem Dias entre o Céu e o Mar, de Amyr Klink, além de outros da Família Schurmann e Aleixo Belov. Tudo isso foi uma influência muito grande pra mim. Então, primeiro naveguei nos livros e depois, com uma condição melhor, comprei meu primeiro veleiro.
MB - Há alguns anos você deu mais um passo em sua carreira, saindo um pouco da frente dos palcos para fundar uma empresa especializada na produção de festas a bordo. Como surgiu essa ideia e com qual finalidade?
LM – O surgimento da Trimar foi de forma espontânea, da mesma forma que comecei a minha carreira com a banda Colher de Pau. Tudo começou quando resolvi comemorar um aniversário a bordo e chamei amigos diversos e do Aratu Iate Clube, um lugar que amo muito. Isso deve ter uns oito anos, talvez, e por coincidência, foi a reinauguração do meu barco, o Estakanágua. No ano seguinte, repeti a dose e o número de barcos presentes na comemoração triplicou! No ano seguinte eu decidi não fazer a festa e aí os amigos exigiram que eu fizesse o evento (Risos). Então, propus uma vaquinha para se pagar a infraestrutura e depois disso isso virou um evento calendarizado, então, chamei meus dois grandes amigos velejadores, Waltinho e Duda, para nos organizarmos e transformar isso em algo realmente profissional. Agora a finalidade da Trimar tem uma junção artística e de produção, onde queremos proporcionar eventos e motivar as pessoas a navegaram em diversos locais da Baia de Todos os Santos. Acreditamos que isso tende a se expandir muito na Bahia e, quem sabe, pelo Brasil.
MB - A Trimar vem crescendo e realizou este ano a primeira edição do Carnaval Náutico de Salvador. Como você avalia esta experiência e quais são os planos e perspectivas a partir de agora?
LM – O Carnaval foi um convite da prefeitura, através da Saltur. Acho que nesta última temporada, quando Durval veio tocar no Estakanágua em um outro evento nosso (Cabralinos), isso repercutiu muito e expandiu as fronteiras do segmento náutico. Certamente, este foi um fator importante de destaque e recebemos esse convite para que fizéssemos um evento, justamente, com as características que fazemos, prestigiando a nossa Baia de Todos os Santos, sobretudo em um período como o Carnaval. Foi um grande desafio, por ser um evento maior, que exigia uma grande estrutura e responsabilidade, mas deu tudo certo e tivemos um feedback bastante positivo da prefeitura, inclusive, para que ele se repita, provavelmente com mais um dia. E já estamos nos preparando para isso.
MB - Temos na Bahia o maior potencial do mercado náutico do Brasil e um dos menos aproveitados, tanto de forma profissional como amadora. Como o Leo que aproveita o mar e o que produz eventos para este público enxerga este cenário?
LM – Bem interessante essa pergunta. Quero deixar claro que o sucesso da Trimar se deve a sermos pessoas do mar fazendo eventos para pessoas do mar. Sou apaixonado pelo que faço, velejando e explorando inúmeros lugares, o que faz com que tenhamos uma visão diferenciada para mostrar tudo isso também ao público nas suas mais diversas modalidades, curtindo com responsabilidade e sabendo que podemos criar condições para promover, não apenas encontros e eventos, mas fomentar o potencial da Baia de Todos os Santos, que ainda é muito pouco explorado.
MB - O forró está sempre presente na cultura nordestina, mas com o São João, é evidente o protagonismo do ritmo. Como você vê a “concorrência” do forró autêntico com o sertanejo e de bandas oriundas de outros ritmos que se formam com um propósito mais comercial nesta época?
LM – Agora vem o Leo Forrozeiro (Risos)! Estamos sempre alertando as pessoas quanto a essa questão, para que exista um movimento de preservação da cultura junina e nordestina. É um contrassenso total, em pleno São João, onde é um feriado somente na região nordeste, que esse tipo de coisa aconteça, porque a gente trabalha para fomentar essa cultura continuamente. A gente fica triste de ver tantos outros ritmos invadindo, sobretudo o sertanejo e o arrocha, que já dominam o mercado fonográfico o ano inteiro. Fica aí esse manifesto de que possam existir, sim, inúmeros ritmos, mas que no São João e neste momento de celebração nordestina, a nossa cultura seja mais respeitada.
MB - Como surgiu a ideia do Estakanágua? Já havia essa visão de ser uma espécie de “trio” no mar?
LM – O Estakanágua foi um nome em homenagem à minha banda. Existia também o Estakamóvel, no início da carreira. Quando comecei a fazer os shows a bordo, ao longo destes seis anos, fomos criando uma estrutura imensa, onde fui aperfeiçoando a estrutura do barco. Já na próxima temporada estamos projetando o Estakanagua III, um barco-palco que vai atender a uma solicitação ainda maior. Certamente, vai ser a primeira embarcação nesse estilo no país e que vai continuar sendo um diferencial da Trimar. Mais uma vez o que começou de maneira espontânea, segue crescendo, onde trazemos o show e o espetáculo para o mar - o lugar que a gente mais curte.
MB - Estakazero e Estakanágua. Uma extensão de duas paixões que seguirão singrando juntas?
LM - Muito legal essa pergunta! E a resposta é sim! Espero que ambos continuem singrando os mares e a minha vida por muito tempo, seja distintamente ou em conjunto. O Estakazero caminha para os 20 anos de carreira, atuando mais no Outono-Inverno, e o Estakanágua segue também trilhando sua trajetória, sobretudo na temporada de Primavera-Verão. Eu estou muito satisfeito e muito realizado, com gás para tocar pra frente tudo isso!
MB - O melhor e o pior do mar da Bahia
LM – Interessante essa pergunta. O melhor é tudo aquilo que a BTS nos traz e sempre nos trouxe, mesmo antes do descobrimento. Dá para imaginar como não era aquela suburbana? O melhor é que a BTS ainda é preservada, a água ainda é limpa e temos tudo que a natureza nos dá de graça. O pior é a falta de aproveitamento, de marinas e estrutura para que as pessoas possam usufruir mais de tudo isso, além de não termos uma cultura náutica na população, o que faz com que ainda haja um número muito pequeno de pessoas que aproveitam essa riqueza. Isso realmente é lamentável. Mas, aos poucos as coisas vão mudando e vai crescendo também esse olhar para a nossa Baia de Todos os Santos.
Fotos: Divulgação
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