Se há um nome que tem se destacado na gestão municipal de Salvador é o de Mila Paes. A titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Emprego e Renda (SEMDEC) tem sido uma referência quando se trata das iniciativas e projetos, sobretudo náuticos, para a Baía de Todos-os-Santos.
Em um bate-papo descontraído e exclusivo, o Site Mar Bahia e o velejador e realizador de eventos náuticos em Salvador, Marcelo Fróes, conversaram sobre temas variados ligados ao setor. Confira.
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Mar Bahia - Completando um ano de funcionamento, o SAC Náutico já se consolidou como uma referência para a desburocratização de uma gama de serviços do segmento. Fale um pouco como nasceu essa ideia pioneira no Brasil e como tem sido a receptividade da comunidade náutica.
Mila Paes – o SAC Náutico nasce de um desejo da prefeitura em estruturar esse setor, e viabilizando e facilitando o acesso do navegador que chega a Salvador pelo mar.
Para isso, a parceria com a Marinha do Brasil, a Capitania dos Portos e a Receita Federal tem sido fundamental, fazendo com que a unificação desses serviços seja realizada de forma rápida, facilitando a vida desse comandante que, ao desembarcar, precisava ir a vários órgãos, com dificuldade de acesso até pela vestimenta para ser atendido. O SAC Náutico é o coração de várias ações que a SEMDEC vem desenvolvendo para este segmento em Salvador.
Já temos sido procurados, inclusive, por outras capitais para uma adaptação desse modelo, que já vem demostrando seu sucesso. Até porque entendemos que o desenvolvimento da náutica passe também por essa colaboração.
Dentre os serviços ofertados estão os procedimentos de imigração, admissão temporária de embarcação, regime especial de admissão temporária com ausência do comandante, declaração de entrada e saída na Capitania dos Portos da Bahia (CPBA), emissão de habilitação de amador, inscrição e registro de embarcação de esporte e recreio, transferência de jurisdição e alteração de característica.
MB - Uma necessidade premente da população de Salvador é a procura constante de cursos de qualificação na área. De que forma a SEMDEC tem trabalhado para oferecer essas oportunidades?
MP – Temos um grande programa de qualificação de mão-de-obra, que só nesses primeiros quatro anos conseguiu oferecer oportunidades para mais de 70 mil pessoas em diversas áreas. É o “Programa Treinar para Empregar”, que organiza em trilhas de informações esses cursos voltados para profissões de alta empregabilidade.
Temos ainda a trilha da economia do mar, que é a “Trilha Náutica”, onde já ofertamos nessa primeira gestão, 250 vagas em cursos de qualificação. Atualmente, estamos trabalhando em um diagnóstico municipal para identificar quais são os setores da economia do mar que são mais carentes dessas qualificações para que possamos fortalecer o programa e ter mais cursos e oportunidades. Até porque a gente sabe que mão-de-obra qualificada é um dos grandes desafios para o crescimento da náutica em Salvador.
MB - Salvador tem se consolidado como um importante polo náutico no país, seja no turismo ou no receptivo de eventos, como o Salvador Boat Show, que pela primeira vez acontece na Baía de Todos-os-Santos. Como você enxerga esse crescimento e visibilidade para a cidade?
MP – Não é à toa que é justamente a Secretaria de Desenvolvimento Econômico que está à frente dessa pauta, porque é uma visão da gestão municipal de que a náutica é uma atividade relevante e pode vir a ser uma das principais atividades econômicas da cidade. Por isso, temos posicionado Salvador dentro desse mercado, e a própria atração do Boat Show nasceu no primeiro evento que a prefeitura promoveu em 2023, em parceria internacional com a Grand Pavois, para exatamente tentar trazer essa visibilidade.
Esse ano, a gente vem com a maior feira náutica nacional, dando o protagonismo para uma marca brasileira aportar no Nordeste. Então, entendemos que esses movimentos são muito importantes para posicionar a cidade, atrair cada vez mais navegadores e investidores, desenvolvendo na prática esse potencial que Salvador tem.
MB - Além de grandes eventos como esse, é notório o crescimento do calendário náutico durante todo o ano, com regatas e iniciativas que têm Salvador como ponto de partida para diferentes destinos dentro da Baía de Todos-os-Santos. Como você vê a relação desses eventos náuticos e o incentivo da gestão municipal com a geração de emprego e renda?
MP – Acredito que seja fundamental termos esses eventos acontecendo ao longo do ano, tendo uma diversidade onde a prefeitura de Salvador vem dando o seu constante apoio. Acreditamos que o propósito maior é desenvolver um processo de maturidade, onde inicialmente é importante a presença do poder público, mas que a tendência é que esses eventos se tornem também cada vez mais independentes, ganhando visibilidade e atraindo também as marcas privadas.
Então, se você me perguntar bem objetivamente, eu acredito que estamos começando a trabalhar de forma intensa nesse sentido, onde em um médio prazo, essa dependência tende a diminuir e as empresas privadas possam acreditar e fomentar esse apoio, independente dos recursos públicos.
MB - Além de secretária de Desenvolvimento, você também é presidente do Comitê Náutico de Salvador, aliando a secretaria de turismo e de diversas entidades ligadas ao setor. É possível falar sobre as novidades e como tem avançado as ações pertinentes a esse Comitê na capital?
MP – A implantação e transferência desse Comitê para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico foi uma das entregas da gestão do prefeito Bruno Reis. O Comitê já existia, mas ganhou um novo fôlego. Essa é uma instância super importante de discussão, onde a SEMDEC tem um modo de atuação de muita escuta dos setores produtivos. Então, tudo que fazemos se baseia nesse propósito de escuta desse grupo, com a congregação de ideias de todos esses setores da náutica.
Temos reuniões mensais com pautas variadas e prestação de contas para que possamos – de uma forma bem unida, como é característica desse setor – discutir e viabilizar projetos. E tem muita coisa ainda por vir, tanto na parte privada como na parte pública nesse fomento do Comitê e sua participação coletiva.
MB - Com a chegada do Verão, Salvador e a Baía de Todos-os-Santos se tornam ainda mais visitados, com uma grande procura por novos roteiros e experiências, sobretudo no mar. Há um planejamento visando esses destinos náuticos ainda na alta estação?
MP – Sim, temos feito alguns trabalhos de divulgação, inclusive em parceria com a Revista Náutica, que é o principal veículo de divulgação nacional do setor, onde compartilharemos diversas pautas ao longo do ano, promovendo Salvador como importante destino turístico, sobretudo para o público náutico.
Há também um estudo desenvolvido pela SEMDEC para os destinos náuticos da Baía de Todos-os-Santos. A ideia é que o projeto sirva como um grande diagnóstico de potencialidades para que, posteriormente, possamos dialogar com esses municípios. Até porque sabemos que o turismo hoje deseja muito a questão da experiência, então precisamos ter conteúdos nesse sentido, porque sabemos o quanto a cultura da Baía de Todos-os-Santos é rica e pujante. Então, o objetivo é que esses municípios se unam em torno desses investimentos, atraindo esse turista com experiências únicas.
MB - Um dos temas mais em alta na pauta náutica é a economia do mar, que envolve não apenas atividades de turismo, meio ambiente, mas sobretudo todo o setor portuário e de logística que envolvem cidades com vocações geograficamente naturais como Salvador. De que forma você avalia o desenvolvimento econômico da capital nesse sentido?
MP – Temos observado um enorme crescimento logístico em Salvador, sobretudo no pós-pandemia, onde constatamos um movimento intenso, com grande interesse dos centros logísticos de se aproximarem das capitais, onde estão os grandes centros urbanos. Então, esse movimento começou muito pautado nessa logística de proximidade.
Para além disso, Salvador é uma cidade portuária, com um porto atuante que se destaca cada vez mais em nível nacional e internacional, e que vai passar por mais uma segunda ampliação que promete ainda mais possibilidades de expansão, como a que foi feita recentemente com a primeira rota náutica direta com a China, reduzindo o tempo de conexão em vários dias.
É claro que há grandes desafios, mas acreditamos que Salvador pode se tornar um dos principais hubs logísticos do Brasil. É um “jogo de xadrez” complexo, que exige interesses econômicos e políticos em diferentes esferas, mas a prefeitura tem trabalhado constantemente nesse apoio e desenvolvimento da economia do mar.
MB - Para fecharmos, qual o destino/programa náutico preferido da soteropolitana Mila Paes e quais os sonhos enquanto gestora para os próximos anos da Capital da Amazônia Azul?
MP – Eu sou uma recém- apaixonada pela vida náutica! Tem pouco tempo que comecei a navegar, mas gosto muito da Ilha dos Frades, Bom Jesus dos Passos e Ilha de Maré. Fico realmente encantada com tudo que tem acontecido com investimentos públicos e privados, sobretudo em Bom Jesus dos Passos. Nós realmente temos uma baía muito rica e potente, mas precisamos trazer cada vez mais pessoas para os nossos muitos destinos.
Como gestora meu maior sonho é que efetivamente tenhamos a atividade econômica do mar representativamente no PIB de Salvador, gerando emprego e renda para as pessoas em um curto espaço de tempo. Acredito realmente que economia do mar há de ser uma das principais atividades da cidade, sendo um divisor de águas na redução das desigualdades que Salvador ainda enfrenta.
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