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O que mudou após um ano dos primeiros naufrágios artificiais em Salvador


Foto: Roberto Costa Pinto

Em 21 de novembro de 2020, a Baía de Todos-os-Santos viveu um dia histórico sob as suas águas, com os afundamentos do ferryboat Agenor Gordilho e do Rebocador Vega, originando a criação dos primeiros naufrágios artificiais de Salvador (Veja aqui as cenas do afundamento aqui).

De um ano para cá, muita coisa mudou no cenário do mergulho baiano, que viu a procura pela atividade quadruplicar, mesmo com todos os cuidados necessários para a prevenção da pandemia do Coronavírus. O Mar Bahia conversou com Igor Carneiro, presidente da Associação de Mergulhadores da Bahia e sócio-diretor da Shark Dive, empresa responsável pela condução de todo o processo operacional dos afundamentos, juntamente com a Setur/BA.


MAR BAHIA - Parece até que foi "ontem", mas já se passou um ano após a criação dos primeiros naufrágios artificiais em Salvador. O que mudou de lá pra cá?


IGOR CARNEIRO - O mercado de mergulho em Salvador estava em declínio e a falta de divulgação e apoio às operadoras de mergulho foram extremamente agravados com a pandemia, o que acarretou até no fechamento de algumas empresas devido a falta de lastro financeiro decorrente de anos de baixa procura.


Os afundamentos trouxeram publicidade para o mercado de mergulho baiano e o retorno não só do turista, com um aumento de mais de 450%, mas também da autoestima dos empresários e profissionais do mergulho baianos, que abraçaram tudo isso com muito entusiasmo vendo as coisas melhorando a cada dia.


MB - Além da preocupação com a segurança da operação, uma grande questão nos afundamentos foram os possíveis danos ambientais das sucatas das embarcações no leito na BTS. Como vocês avaliam essa realidade atualmente?


IC - Todo o processo foi pensado e avaliado sempre com as questões ambientais à frente, afinal do que adianta mergulhadores na água com uma natureza degradada? Tudo foi muito bem estudado para minimização dos impactos ambientais e os naufrágios hoje são um caso bem particular deste sucesso.

Foto: Roberto Costa Pinto

MB - O coral sol era um dos invasores mais temidos nos novos naufrágios. Como está essa situação hoje?


IC - Sim, sem dúvida um dos assuntos mais polêmicos e preocupantes, já que é uma realidade em quase todas as estruturas artificiais presentes nas nossas águas, píeres, pontes, embarcações abandonadas, dentre outras. Todos os cuidados foram tomados, desde a limpeza preliminar, lugar escolhido, influência das correntes marinhas, profundidade, áreas de sombreamento e outros fatores. Tudo foi pensado para que houvesse um menor impacto possível e a menor presença de espécies invasoras, não só de coral sol. E além disso tudo, é feito um monitoramento quase que diário dos naufrágios para verificar a presença destas espécies. O que constatamos após um ano de afundamento é que não há presença de coral sol ou outra espécie potencialmente perigosa ao nosso ecossistema.


MB - Podemos afirmar que o "saldo" para a criação de um berçário natural após os afundamentos é muito maior do que os prejuízos?


IC - Sem dúvidas que sim. É claro que a migração de espécies presentes em outros ambientes já existentes acontece, mas hoje temos uma grande quantidade de espécies que já se reproduzem por lá e todo o ambiente já se tornou um ecossistema rico e que já povoa outros lugares da nossa Baía de Todos-os-Santos. Hoje, além de peixes menores, já é frequente a presença dos grande meros e de outros predadores como golfinhos oceânicos e peixes maiores.

Foto: Roberto Costa Pinto

MB - Muita gente deseja conhecer estas embarcações, especificamente, sobretudo o ferry. Qualquer um pode mergulhar nestes naufrágios ou é preciso uma certificação especial?


IC - Por motivos ambientais e de segurança a navegação, devido ao tamanho dos navios, os locais escolhidos são profundos e exigem treinamento específico. Para mergulhar no ferry, o mergulhador precisa ter a certificação de mergulhador avançado, um nível após a certificação básica inicial, que oferece habilitação para mergulhos abaixo dos 20 metros - profundidade onde é possível começar a ver o navio, que chega até os 34 metros de profundidade.


MB - Há previsão de novos naufrágios artificiais na BTS?


IC - Já existem estudos em andamento e uma possibilidade real de novos afundamentos. Mas é importante deixar claro que não precisamos apenas da nossa vontade para fazer, mas de estudos minuciosos de viabilidade e estes só serão possíveis depois de mais um tempo de avaliação e monitoramento dos que já ocorreram, a fim de sabermos ponderar, com clareza, os benefícios de novos afundamentos.

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