Uma ponte que é uma promessa de construção há dez anos pelo Governo do Estado e segue em processo final de licitação é motivo de questionamentos importantes pela população, que se reuniu à frente do Movimento em Defesa da Ilha (MDI) para formalizar discussões e ações em torno da Ponte Salvador-Itaparica.
"Vale destacar que não somos contra o Sistema Viário do Oeste, porém a forma como o projeto se apresenta, além de ser muito oneroso, cria um impacto sobre diversas pessoas, vidas e economias, sobretudo a marítima. A nossa estratégia é conectar de forma mais rápida pessoas e entidades para discutir as ações do movimento e pensar nas soluções, declara Zé Pescador, um dos idealizadores do movimento e presidente da ONG Pró-Mar. Ainda de acordo com representantes da ação, o ideal seria que fossem investidos aportes para a valorização de um sistema hidroviário de qualidade, não apenas nos ferryboats, que nunca funcionaram corretamente, como as "lanchinhas" que fazem a travessia Salvador-Mar Grande e outras linhas que foram completamente extintas, como as que faziam os percursos até o Recôncavo Baiano.
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Em uma carta aberta (leia a íntegra abaixo), o MDI resume alguns pontos do porquê se mostram contra a construção da ponte. " Este é um empreendimento que vai desfigurar o cenário de uma das mais belas cidades do mundo, Salvador, e ao mesmo tempo destruir o que restou de uma ilha, um paraíso de nome Itaparica, lugar que ainda, inexplicavelmente, conserva tantas riquezas naturais (...) A Baía de Todos os Santos não tem nenhum ordenamento, nem gestão eficiente do seu território. Trata-se de uma Área de Proteção Ambiental sem Plano de Manejo, sem conselho gestor, sem controle ambiental, destruída, sugada dia após dia, por especuladores que se aproveitam da falta de gestão, para cometer a maldade de destruí-la, a cada minuto, a cada hora com os efluentes industriais que vão contaminando as suas águas (...)"
Com 12,4 quilômetros de extensão, a ponte está orçada em R$ 6,1 bilhões. Representantes chineses, italianos, espanhóis e franceses das empresas interessadas em financiar e executar o projeto seguem discutindo uma pauta de negociações junto ao governo. Para o secretário da Casa Civil, Bruno Dauster, a presença dos empresários e organismos financiadores demonstra a importância do projeto. “Além do BNDES e da Desenbahia, estão presentes bancos e agências de fomento internacionais. Nós vamos lançar o edital no máximo até 30 de julho e vamos abrir o edital na Bolsa de São Paulo até o fim de setembro", afirmou.
O MID e as diversas entidades ligadas ao movimento, como a União dos Moradores de Bom Despacho (Unibom) seguem com ações junto ao Ministério Público para o agendamento de uma nova audiência pública, ainda sem data definida.
CONFIRA ABAIXO A CARTA ABERTA DO MOVIMENTO NA ÍNTEGRA:
CARTA ABERTA
A PONTE SALVADOR ITAPARICA
SISTEMA VIÁRIO DO OESTE
Cidade de Salvador, berço da História do Brasil, está ligada ao mundo pelo mar. O transporte marítimo é um caminho que vem sendo abandonado, desprezado. Salvador e a ilha de Itaparica tem a liberdade de serem ligadas pelo mar, e não pelo grilhão de uma ponte. Mas como se não bastasse tudo isso, Salvador e a ilha de Itaparica estão situadas num território, chamado Baía de Todos os Santos (BTS). De todos os Santos, de todo Axé, de todos nós, de um estado pobre na saúde, na educação, na segurança que clama aos políticos de bom coração, vereadores, prefeitos, deputados, senadores, ao governador do Estado e ao seu vice governador, ao presidente da república do Brasil, para que não cometam este ato egocêntrico de marcar esta Baía com a obra da ponte bilionária.
Este é um empreendimento que vai desfigurar o cenário de uma das mais belas cidades do mundo, Salvador, e ao mesmo tempo destruir o que restou de uma ilha, um paraíso de nome Itaparica, lugar que ainda, inexplicavelmente, conserva tantas riquezas naturais, ecossistemas riquíssimos, como os recifes de corais, os daqui são os mais lindos recife de franja do Atlântico Sul, para os oceanógrafos e biólogos que os estudam no lado Leste, de frente para Salvador; e no lado oeste da ilha concentram-se grandes áreas de manguezais formando uma conectividade de grande biodiversidade marinha com os recifes de coral.
Diariamente, convivemos com aqueles que padecem e são massacrados na fila do sistema de transporte marítimo Ferry Boat. Quantos já morreram dentro deles e esperando em suas filas o socorro deles? O povo da ilha vive torturado por este sistema, os doentes que precisam buscar tratamento de saúde na capital, os trabalhadores sofrem todos os dias para atravessar da ilha para Salvador, de Salvador para ilha. É um sistema falido, como falho é o sistema de governo que não escuta o seu povo e que não esta ali para ajudá-lo e sim para maltratá-lo. Ainda sobre o transporte marítimo, não podemos deixar de tratar das lanchas, as famosas lanchinhas para Mar Grande, a travessia mais charmosa da sua Baía de Todos os Santos. Nunca esquecemos da viagem que é esta travessia, do portal que ela representa para entrar na dimensão de Itaparica, que é algo tradicional. O esquecimento da importância da realização de investimentos no transporte marítimo entre Salvador e Itaparica se manifestou, quando aconteceu a tragédia com a lancha Cavalo Marinho I, onde muitas pessoas perderam a vida e outras perderam aqueles que amavam. Mas, não é porque o sistema de transporte marítimo esta ruim que precisamos de uma ponte, precisamos é melhora-lo.
A Baía de Todos os Santos não tem nenhum ordenamento, nem gestão eficiente do seu território. Trata-se de uma Área de Proteção Ambiental sem Plano de Manejo, sem conselho gestor, sem controle ambiental, destruída, sugada dia após dia, por especuladores que se aproveitam da falta de gestão, para cometer a maldade de destruí-la, a cada minuto, a cada hora com os efluentes industriais que vão contaminando as suas águas, espantando os seus peixes e poluindo a lama, o lugar onde as marisqueiras tiram o seu alimento e o seu sustento. Território sacrificado por governos desconectados com a sociedade, com seus discursos populistas não estão preocupados em nos escutar.
Estamos aqui em defesa deste território ameaçado e consumido pelo ego, pelo poder de maus políticos que são omissos e, desacreditados por suas próprias atitudes. Querer implantar um projeto deste porte, sem observar o potencial impacto negativo que esta ponte vai provocar para a ilha de Itaparica e, principalmente, para a cidade de Salvador é uma prova consistente da omissão do poder público perante os aspectos culturais, sociais e ecológicos da BTS. Mas esta carta não vai se prender aos aspectos negativos que este projeto, SISTEMA VIÁRIO DO OESTE, representa para esta região, com a possibilidade da construção da ponte Salvador - ilha de Itaparica, muito pelo contrário, vamos destacar alguns pontos positivos para realizar este projeto, para desenvolver a economia do nosso estado, apontando uma alternativa mais econômica e positiva.
* Construir o SISTEMA VIÁRIO DO OESTE com acesso às cidades do recôncavo baiano, melhorando a infraestrutura das suas rodovias e ferrovias, possibilitando o desenvolvimento econômico destes munícios e integrando a região oeste e o agronegócio ao Porto de Salvador ou de Aratu. O Professor de Engenharia da UFBA Paulo Ormindo, tem um projeto muito bom que pode ser ainda mais aprimorado, mas sem dúvida é uma alternativa a ser considerada, por ser mais econômica e de maior alcance para o desenvolvimento sócio econômico e ecológico do nosso estado.
* Nada contra a Indústria da Construção Civil da China, mas este é um bom momento para revitalizar, de forma legal, a indústria nacional da construção civil, de empregar os milhares de trabalhadores que perderam o seu trabalho por causa da corrupção entre alguns políticos e alguns empresários.
* Investir na modernização dos Portos e no transporte já existente entre Salvador e Itaparica. Um sistema de travessia que dê mais conforto e segurança para os moradores da ilha e, também, para os que encontram neste atalho para o sul do estado e para outras regiões um momento de prazer na sua viagem, atravessando a Baía de Todos os Santos sem ficar horas a espera de um navio velho e sucateado. Esta travessia hoje, pode até ser comparada a um ato de penitência, para aqueles que precisam usar este transporte, quando poderia ser hoje o maior atrativo turístico do nosso estado pois, por si só, a travessia da Baía de Todos os Santos já é um acontecimento encantador.
Os moradores da ilha sabem muito pouco sobre a ponte, assim como os moradores de Salvador. A discussão sobre este assunto não tem interessado muito ao poder público, e a pressa em iniciar esta obra eleitoreira justifica a falta de diálogo e da escuta sensível de outras possibilidades à melhoria de transporte entre Salvador – ilha de Itaparica. Eles têm pressa, eles que nunca se preocuparam em melhorar a vida de quem vive aqui na ilha, agora tem pressa de iniciar uma obra que vai endividar muito o nosso estado, ignorando a vontade daqueles que eles ”representam”, apenas por vaidade, por querer marcar o mar da Baía de Todos os Santos.
Movimento em Defesa da Ilha, 21 de junho de 2019
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